domingo, 19 de fevereiro de 2012

Preparando e organizando as ideias: Artistas Mulheres

Você já ouviu falar da artista brasileira Isabel Mendes da Cunha? E de outras artistas mulheres? 

Na produção artística brasileira podemos encontrar muitos exemplos de mulheres que desenvolvem um trabalho bastante importante e reconhecido na área.


Preparando...

É necessário conhecer e estudar cada vez mais o papel das mulheres na arte, pois essa é uma forma de valorizar a cultura e a produção artística de tradição popular, que muitas vezes é passada de mãe para filha. 

Abaixo, apresentamos um pouco da trajetória artística e da produção das peças de Dona Isabel.

Dona Izabel em seu ateliê. Foto autoria desconhecida.


Organizando...
* O texto abaixo foi retirado do site:




Sobre a Artista:

Dona Isabel (1924) é certamente a mais famosa artesã que trabalha com barro no Vale do Jequitinhonha. Exerce o seu ofício, "mexe com o barro", no pequeno vilarejo de Santana do Araçuaí no Município de Ponto dos Volantes. Filha de louçeira, que possuía um saber ancestral obtido de seus antepassados indígenas, cresceu vendo a mãe trabalhar.
No início sua relação com o barro aconteceu como todas as crianças do interior. Na infância modelava com argila objetos para as suas brincadeiras. Foi aí que surgiu o sonho de fazer bonecas que só se materializou muitos anos após, já na idade adulta.
Já casada e depois viúva, Dona Isabel, no esforço de criar seus filhos, fugindo das dificuldades de ganhar o pão de cada dia no trabalho na roça, passou a produzir potes, travessas, figuras de presépios, que eram vendidas nas feiras da região.
Nesta época suas criações se destacavam em meio às outras graças à sua inventividade e o capricho na modelagem e decoração das peças. Muitos anos após, quando foi “descoberta” já com 44 anos, em 1978, é que surgiram suas mais famosas criações - as bonecas - que hoje tem fama no Brasil e no exterior.


Dona Izabel ao lado de seus fornos, Santana do Araçuaí-MG, reprodução fotográfica Noivas da Seca: cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha, Editora UNESP, 2008.

Seu trabalho:

Como bonequeira criou imagens representando o povo da região em noite de gala, especialmente mulheres, em diversas situações especiais do cotidiano: Noivas vestidas de branco com arranjos e buquês, noivos elegantemente vestidos com terno e gravata, madrinhas, grávidas amamentando, preparativos para festas, procissões, etc.
Algumas das peças chegam a medir de 1,5 metros de altura. São minuciosamente enfeitadas, decoradas. As mulheres são apresentadas com olhos, cílios, lábios e unhas pintadas, e penteados impecáveis. Todas portam colares, brincos e outros enfeites. Sonhos de glamour de um povo sertanejo sofrido que vive numa das mais pobres regiões do país, assolada regularmente por secas e enchentes.
O acabamento das peças (pintura) é feito usando barro da região "água de barro" de variadas tonalidades, muitas vezes misturados entre si, para a obtenção de outros tons, uma espécie de engobe. O resultado final é uma superfície lustrosa, acetinada, quase sem imperfeições. Em nenhuma momento se aplicam esmaltes (vidrados).

A modelagem com barro:

Os trabalhos produzidos por Dona Isabel, ao contrário do que acontecia no início de sua carreira, são atualmente bastantes valorizadas. Uma boneca de maior tamanho pode chegar a custar milhares de reais, e o atendimento obedece a uma fila de espera.
As peças são modeladas manualmente, com a ajuda de toscas ferramentas, sem o uso do torno de oleiro, com barro de boa qualidade abundante na região, depois de sovado e peneirado. O alisamento da superfície é feito usando sabugo de milho e de outros modos.
As peças são feitas em partes e depois montadas, juntadas. Cabeças, pálpebras, olhos, lábios, boca, nariz, orelha e cabelos.

A queima das peças:

As queimas são realizadas em rústicos fornos a lenha abertos, cuja técnica está plenamente dominada graças ao longo período de prática. Os trabalhos são colocados, na parte inferior, sobre cacos e peças defeituosas. Para evitar manchas há especial cuidado para que as peças não encostem uma nas outras ou na parede do forno. A parte superior do forno é coberta com latas, cacos e peças com defeito visando manter a temperatura estável.
O esquente é feito durante as primeiras horas, lentamente, para que a evaporização da água ocorra sem sobressaltos. Em seguida é o momento de colocar mais lenha para aumentar o fogo e observar, nas horas seguintes, a cor da chama e das peças. Só após o lento esfriamento é possível verificar o resultado da queima.

Dona Izabel modelando uma de suas peças. Reprodução fotográfica do catálogo da exposição "Izabel Mendes da Cunha: Cerâmicas", Galeria Estação, São Paulo, SP, 2010.

Escola de cerâmica:

Dona Isabel criou um estilo próprio de trabalho e repassou o seu conhecimento para todos que a cercam formando uma verdadeira escola de cerâmica. Vários fatores têm influência no resultado final. A escolha do barro, sua preparação e manuseio, a modelagem, o acabamento e pintura, e a queima.
Integram a comunidade de artesãos de Santana do Araçuaí, a maioria mulheres e poucos homens, amigos e parentes (filhas e filho, genro e netas) de Dona Isabel. Maria Madalena (filha), Amadeu casado com Mercina (filho e nora), Glória Maria casada com João Pereira de Andrade (filha e genro).
Muitos estão reunidos na Associação dos Artesãos de Santana do Araçuaí que promove oficinas e onde os artesãos comercializam suas peças: bonecas de variados tamanhos, galinhas, moringas, flores, potes, vasos, figuras de presépios,louça para feijoada e muito mais.


Para pensar...

Acesse o site do Museu da Pessoa e assista um vídeo com depoimento da artista! clique aqui! 


Que outras artistas brasileiras podemos apontar como importantes na produção artística nacional?

Como mostrar a mudança do papel social da mulher na sociedade através de suas produções artísticas?

Que outros papeis importantes na sociedade de hoje as mulheres representam?

Será que esse papel social das mulheres foi sempre do mesmo jeito que vemos hoje?

Que outras discussões podemos levantar a partir dessa questão?


Para mais informações sobre a artista e seu trabalho clique aqui

Isabel Mendes da Cunha

Nasceu na Fazenda Córrego Novo, município mineiro de Itinga, no dia 3 de agosto de 1924. Mudou-se ainda jovem para Santana do Araçuaí, hoje município de Ponto dos Volantes, Vale do Jequitinhonha-MG, onde mora com sua filha.

Desde a infância, dona Isabel já criava pequenas figuras de barro, imitando sua mãe que era louceira (paneleira, como é chamado na região do Vale do Jequitinhonha) e se dedicava à produção de cerâmica utilitária. Quando adulta, seguiu os passos de sua mãe e começou também a fazer peças utilitárias com o barro, as quais vendia nas feiras da região. Dona Isabel ficou viúva, e desde então, para ajudar no sustento dos filhos, começou a modelar outros tipos de peças, como animais e bonecas de barro. No início suas figuras consistiam de cavaleiros, bois, aves e pequenos presépios, todos feitos com barro vermelho e pintados com barro branco.

No início da década de 70 a artesã iniciou a produção de bonecas grandes, algumas com cerca de um metro de altura. Eram, em sua grande maioria, casais de noivos, com o homem vestido de terno e a mulher vestida de branco, grinalda e buquê de flores nas mãos, uma marca registrada da sua obra. Outra peça que ficou muito famosa, e que começou a ser modelada ainda nesta época, foi a boneca representando uma mãe amamentando.

Com a procura por suas peças, dona Isabel passou a produzir bonecas com detalhes mais elaborados e características próprias. Na época, uma das suas inovações foi a forma de fazer os olhos das bonecas. Antes os olhos eram apenas pintados, como ainda fazem muitas outras artesãs do Vale; dona Isabel passou a esculpir os olhos de sua bonecas em alto relevo. Outra inovação foi a utilização do barro colorido para pintura das bonecas, técnica ainda utilizada por ela e por várias artesãs do Vale do Jequitinhonha.

As peças de dona Isabel logo ganharam fama nas feiras da região. Com o trabalho de divulgação/ comercialização realizado pela CODEVALE (Comissão do Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha) no final da década de 70, tornaram-se muito valorizadas também em feiras nacionais e internacionais. Com a notoriedade alcançada, a artesã deixou de lado a cerâmica utilitária e passou a se dedicar apenas às suas bonecas. Casal de noivos, mulheres amamentando, rituais de batizado são algumas das peças mais famosas feitas por dona Isabel. Todas essas bonecas eram vestidas com roupas de festa,  feitas com capricho e com grande riqueza de detalhes, características presentes até hoje em suas peças.

Dona Isabel teve quatro filhos: Amadeu, Rita de Cássia, Maria Madalena e Gloria. Com o aumento da demanda por suas peças, toda a família se incorporou ao trabalho com o barro. Dos quatro filhos, apenas Rita de Cássia não trabalha na arte do barro. A filha Glória e seus marido João Pereira de Andrade são ceramistas renomados atualmente e já iniciaram suas filhas na arte de modelar o barro. Maria Madalena mora ainda hoje com sua mãe e a ajuda na produção de suas peças.

A escola de cerâmica iniciada por dona Isabel, inclui, além de sua família, vários outras artesãs de Santana do Araçuaí. Entretanto, o principal seguidor desta escola é seu genro, João Pereira de Andrade, que se tornou seu sucessor natural. A Associação dos Artesãos de Santana do Araçuaí mantém uma loja onde são expostas as peças de todas as artesãs da região. Na sua maioria são bonecas, galinhas, vasos e flores de cerâmica.

Atualmente as bonecas de dona Isabel são peças altamente valorizadas no mercado da arte. Entre as artesãs do Vale do Jequitinhonha, ela é a que cobra mais caro pelas sua peças e mesmo assim existe uma longa fila de espera. Com o dinheiro adquirido ao longo dos anos, ela conta que sua família melhorou muito de vida. Hoje eles moram em terras próprias, nas quais foi construída uma casa ampla para dona Isabel morar com sua  filha  Maria Madalena. Porém, a artesã continua a usando o velho ateliê, onde estão os velhos fornos de cerâmica que a acompanham desde longa data.

Entre os prêmios recebidos por dona Izabel destacam-se: o Prêmio Unesco de Artesanato para a América Latina (2004), a Ordem do Mérito Cultural (Ministério da Cultura do Brasil, 2005) e o Prêmio Culturas Populares (Ministério da Cultura do Brasil, 2009). Recentemente Dona Isabel foi homenageada pela presidenta Dilma Rousseff durante a abertura da exposição "Mulheres artistas e brasileiras" no Palácio do Planalto em Brasília.
Dona Izabel continua trabalhando em Santana do Araçuaí-MG.

Rua Belo Horizonte, 32, Fone: (33) 3733-3026

Fonte Bibiográfica:
Dalglish, Lalada. Noivas da Seca: Cerâmica popular do Vale do Jequitinhonha, 2a Ed. - Sao Paulo: Editora UNESP, Imprensa Oficial do Estado de Sao Paulo, 2008.


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